Nem toda heroína veste capa

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O dia das mãe se aproximando e eu, uma simples universitária e escritora que mora em república, estava refletindo sobre essa data comemorativa enquanto organizava minha To do list de sábado; lavar roupa, arrumar o quarto e tantas outras coisas que só de pensar me deixam enlouquecida, ainda mais depois de uma semana toda sem voz com uma apresentação de seminário e prova no mesmo dia. Esses últimos dias foram desesperadores. Na real, a vida de um universitário pode ser MUITO desesperadora. Nunca é só fazer trabalho ou só estudar, é muito diferente da escola.

 Enfim, desabafo de universitária desesperada à parte, enquanto eu lavava as roupas - na mão com sabão em barra - eu comecei a pensar sobre um bom tema para escrever sobre o desafio "Nem toda heroína veste capa" do grupo Escrita Criativa e de como abordaria esse tema e ainda conseguiria abordar o feliz dia das mães sem parecer muito clichê. E então, enquanto eu esfregava minha blusa verde estampada com mini âncoras, ganhei três machucados diferentes em cada dedo de tanto esfregar as roupinhas, e ardia horrivelmente. Mas eu continuei lavando. Eu quis parar, já estava cansada, a pele do machucado insistia em sair e quando o sabão batia com a água gelada doía mais ainda. Mas lavei as minhas roupinhas para a semana porque eu precisava.

 E do nada a lembrança repentina de um vídeo antigo e evangélico que rodava no facebook uns meses atrás me veio a mente. A história era basicamente assim: uma menina nova em sua primeira entrevista de emprego e o entrevistador faz uma série de perguntas e ela revela ser filha de uma lavadeira que a criou sozinha. Sendo assim, o senhor pergunta a menina se ela havia chegado naquela sala apenas pelos próprios méritos e a jovem diz que sim e então estranhamente o moço pede licença para a menina pedindo para ver as mãos dela e em seguida pede que ela vá pra casa, olhe as mãos da mãe e volte para uma segunda entrevista no dia seguinte. Ao fazer o que o homem pediu chegando em casa, a menina se depara com as mãos da mãe cobertas por feridas piores que as minhas e então a garota entende o propósito daquilo e o mais importante, eu entendi.

Eu entendi que aquelas feridinhas recém adquiridas não eram nada comparado a tudo o que uma mulher fez por mim para hoje eu estar em uma faculdade federal, em uma república, lavando as minhas roupas na mão e me matando de estudar mesmo estando doente. Eu entendi que lá atrás uma mulher sem expectativa alguma chorou ao descobrir sua segunda gravidez, pois o primeiro filho vivia doente e o marido estava desempregado.

Eu finalmente entendi.

 Entendi a ausência de uma mãe que trabalha de domingo a domingo e a tristeza de tantas vezes, injustamente, ter de enfrentar a mal criação de dois filhos carentes que a julgava por não ser presente, quando ela só estava tentando acertar. Entendi as broncas, as brigas, os castigos. Entendi  o colo quando eu já não aguentava mais lutar por algo e a cobrança excessiva quando eu desistia de um objetivo.

Eu entendi seu cansaço e também entendi sua doença. E tudo o que eu quis fazer foi abraçá-la e dizer-lhe um monte de coisas, mas infelizmente quando o telefone tocou eu não fui capaz de dizer nada. Só o "eu amo você", "eu estou bem", "a senhora já almoçou hoje?". E a verdade por trás disso é porque ela não é perfeita e também já me deixou marcas difíceis de serem esquecidas, apesar de eu perdoá-las de todo o meu coração. Algumas coisas ainda machucam.
Mas hoje eu sei que tá tudo bem. A minha heroína não veste capa e salva o mundo, mas já enfrentou muitos leões para me proteger, até quando eu era o próprio leão.

 A minha heroína é colecionadora de sapatos jamais usados e avaliadora profissional de séries. É a mulher que me permitiu sonhar escrever e que me apresentou o primeiro livro. É a pessoa responsável por me trazer até aqui aos trancos e barrancos. Ela não é perfeita, mas é única.

 Hoje você já disse para sua mãe o quanto ela é importante para você? Pois se não tiverem dito, digam! E se já tiverem dito, digam outra vez também! Nunca é demais demonstrar para essas pessoas tão únicas o quanto elas são importantes em nossas vidas.




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